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9.3.09

Religiões no Plural

Não vejo por que nós, teístas ou espiritualistas, devamos escolher uma única religião, da mesma forma que torcedores se afiliam a times de futebol. Aceitar a existência de algo tão complexo como Deus só me parece sensato se esse Deus encerrar em si um universo multidimensional, de forma que seria pura arrogância pensar que um humano seja capaz de contemplar, em seu limitado foco de compreensão, a deidade de modo completo. Não, nossos olhos não são capazes sequer de encarar frente a frente todo o planeta em que vivemos de uma vez só. Conhecer o planeta exige deslocamento, viagem, da mesma forma como conhecer a Deus exige diferentes pontos de vista.

Assim, as diferentes religiões seriam como diferentes cadeiras na arquibancada de um mega espetáculo; detalhes ocultos a algumas são mais nítidos a outras, apesar de virem duma fonte em comum. Também a espiritualidade se encontra em um plano sobre-humano, que não pode ser completamente preenchido pela consciência, mas pode ser experimentado em lâminas: recortes do todo interceptáveis.

O olhar compreensível permite discernir o que há de verdadeiro e puro nas diferentes doutrinas, e cada um pode montar seu próprio quebra-cabeça que permita a saciação do movimento espiritual. Eu, por exemplo, recorro ao Espiritismo para questionar o sofrimento e a justiça Divina, ao Budismo para desapegar a alma das paixões mundanas, alcançando paz, e até ao Catoliscismo quando preciso de imagens fortes para direcionar o pensamento, para agradecer e para pedir apoio.

Apenas é preciso tomar cuidado para não pecar por superficialidade. Não são simples os preceitos espirituais para o ser imperfeito, e a racionalização quase sempre cria jogos com as palavras capazes de esconder terríveis preconceitos em ditados aparentemente belos. A virtude real exige meditação profunda, reflexão e estudo rigoroso.

Contudo, o que há de mais sublime no propósito das religiões é a proposta de que o ser humano haja de acordo com preceitos morais, baseados no respeito, no amor, na caridade e na tolerância, a fim de que conviver torne-se o verbo do elo que une e massageia o coração da humanidade, a fim de que o ser imperfeito alcance por seu mérito a felicidade.

E não é curioso que a moral seja o campo simbólico mais semelhante dentre as diversas religiões?