Páginas

29.3.10

Saúde e Dinheiro

Tava ouvindo outro dia o boletim diário da Mara Luquet na CBN, em que ela abordava o assunto “Emagrecer Enriquece”. Simpatizo demais com a Mara, sempre gosto dos temas que ela aborda; mas confesso que dessa vez a coluna da economista deixou um pouco à desejar – o que não foi necessariamente ruim, porque me deixou pensativo desde então.

O boletim do dia foi baseada em uma matéria da jornalista Verônica Couto para a revista “Elas & Lucros”, que indica uma correlação entre emagrecimento e aumento de patrimônio, segundo uma pesquisa da Universidade de Ohio. Mas, como toda boa metodologia científica esclarece, correlação não é sinônimo de causalidade, e foi essa a questão que ficou em aberto: por que emagrecer enriquece?

A interpretação da Mara Luquet me parece bastante razoável: a de que ser saudável é mais barato que o padrão de consumo mediano das classes médias para alta. Ir de ônibus para o trabalho, por exemplo, não só é mais barato que usar o automóvel particular como também te coloca em movimento (você precisa andar até a parada) e permite um padrão de vida mais saudável.

Ok, mas até agora não falei nada de novo. Isso tudo foi dito pela Mara. Agora, o que eu fiquei pensando mesmo é nessa onda nova “neo-capitalista” em que muitas vezes somos obrigados a pagar mais caro por produtos saudáveis, às vezes desnecessária ou demasiadamente. Sabemos muito bem que um pão com alface pode sair pelos olhos da cara se tiver uma marketagem adequada. E eu fiquei pensando se vale à pena bancar esse mercado.

Tudo bem, abrir mão de tóxicos alimentícios é melhor para a saúde, mas essa é uma desvantagem do ponto de vista econômico: a produção cai, encarece, e inevitavelmente isso vai cair nas mãos do consumidor. Não acho injusto. Se não houvessem impactos econômicos, sustentabilidade não seria sequer debatida. Seria uma realidade automaticamente estabelecida pelas tão conhecidas "forças" da oferta e da demanda.

Não cheguei a nenhuma conclusão, e nem tenho dados para convencer ninguém a nada. Mas acho propício lembrar que vivemos em um mundo em que rótulos agregam muito, mas muito valor à maioria dos produtos. Não pagamos, em nosso padrão consumista, apenas por qualidade, mas também por nomes, marcas, ideologias e patentes. Pagamos por tanto coisa que é até difícil dizer até que ponto estamos pensando em “oferta e demanda” e até que ponto estamos transformando questões metafísicas em dinheiro.

A questão é que inadvertidamente, ao sermos saudáveis, estamos bancando sim uma indústria de ideologias de um mundo melhor e mais verde. Isso é importante, e acho ingênuo simplesmente ignorar este fato.

Mas a mensagem que eu gostaria de deixar é que é possível ver além. Porque, apesar de existir todo um aparato industrial para te convencer de que comprar isso ou aquilo é bom e melhor pra você, ainda existem atitudes que barateiam a sua vida sem te fazer refém de uma bolha consumista.

Sair de casa e caminhar no parque, diminuindo seu consumo de energia. Usar escadas no lugar de elevadores. Fazer uso de transportes coletivos (reiterando). Trocando alimentos industrializados por frutas e vegetais. Isso te economiza vida e dinheiro. Além disso, é fato que pessoas pouco saudáveis acabam gastando MUITO dinheiro com remédios e planos de saúde depois de uma certa idade.

Cuidar da sua saúde é cuidar do seu bolso, isso já não sou eu que estou dizendo. São os caras lá de Ohio. Agora, o que eu estou dizendo é que não é necessário sair de uma cadeia consumista para entrar em outra, como muita gente por aí está interessado em te fazer acreditar.

(Bom, talvez seja necessário, mas se você for capaz de perceber isso, ao menos estará apto a fazer escolhas).

Nenhum comentário: