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22.2.10

Da Universidade e Do Descaso

Sei que não sou melhor que ninguém, e que ninguém tem que obedecer minhas vontades. Na vida, eu sei, as coisas podem não ser como a gente espera e isso, por si só, às vezes pode ser bem difícil. O problema é quando, somando, nos encontramos frente a descaso, desorganização e falta de interesse. Minha história na UnB nunca foi das mais bonitas: sempre foram tropeços atrás de tropeços. Perdi as contas de quantas vezes planejei alguma coisa e, na hora H, algo inesperado acontecia, me deixando mais perdido do que já sou.

Dessa vez não foi diferente: depois de oito longos e sofridos semestres, finalmente montei minha 'última' grade horária, com as duas disciplinas obrigatórias restantes, e mais créditos do que o necessário para a formatura. Teoria Eletromagnética 2 (TE2) e Mecânica Clássica 2 estavam, como sempre foi, por todos os semestres em que eu estive na universidade, nos horários de 14h e 16h, respectivamente; segundas, quartas e sextas. Entrei no site na época da oferta, montei minha grade e esperei até a meia-noite do dia 20 para fazer minha matrícula. E aí TE não está mais na minha oferta. Estava anteriormente, eu só precisaria aceitar. Não estava mais, porque deu choque de horário com M. Clássica.

Nisso, perdi um semestre. O que acontece é que, desde o terceiro semestre, saí do fluxo. M. Clássica mudou de horário com outra disciplina que é do mesmo semestre que ela e, por isso, o único prejudicado fui eu (ao que parece). Como disse, não quero parecer arrogante. Sei que quem está no fluxo tem prioridade, e entendo isso. O que eu não entendo é que as coisas sejam feitas assim, em cima da hora, no momento da matrícula. O objetivo da oferta sair antes não era justamente para que nós nos planejássemos?

Se eu tivesse visto isso antes da matrícula, eu teria me antecipado. Teria ido conversar com cada professor envolvido e com o máximo de alunos que eu pudesse. Teria tentado pelo menos arrumar uma saída, ou pelo menos me conformar sabendo que tentei. Não me deram essa chance.

Fui conversar com o coordenador do curso e nunca me senti tão insignificante. Ele apenas dizia que, realmente, teve algum problema que ele não lembrava qual era, mas ele existia, sinto muito, sinto muito. E fim. Ninguém moveu um dedo pra me prestar uma informação a mais. Eu já sabia que dificilmente conseguiria reverter a situação, porque já eram muitos os envolvidos (professores e alunos). Mas eu poderia pelo menos saber o porquê. Provavelmente algum professor pediu tal mudança, e provavelmente por desorganização só atualizaram essa informação na hora da matrícula. O motivo pode até ser justificável (não sei!), mas com formatura não se brinca. Ainda mais para quem quer seguir vida acadêmica, como eu. No IF-UnB, por exemplo, quem forma em cinco anos (eu) tem sua chance de conseguir uma bolsa de mestrado bastante reduzida.

Pra mim isso é desrespeito. A gente vive numa comunidade universitária em que o Estado investe um puta dinheiro para que pouquíssimas pessoas se formem, e nós, que somos formandos, não somos tratados com o menor cuidado. Simplesmente temos que nos conformar com decisões aleatórias e não nos é dada nenhuma chance de entender como tudo aconteceu. Eu estou fora do fluxo? Sim. Mas porque tive o cuidado de escolher bem meus professores. Me esforcei na maioria das matérias, e tirei SS's importantes, não por ser genial, mas por ter me dedicado. Será que isso não deveria ser levado em consideração antes de disciplinas importantes do curso serem remanejadas?

Olhando pelo lado prático, isso foi muito bom pra mim. Era a gota d'água que faltava para eu decidir de uma vez por todas que não quero mestrado na UnB. Minha principal opção, na verdade, começa só no ano que vem mesmo, então não estou perdendo um semestre. Mas passar por isso é muito desgastante. Penso na UnB e já tenho medo da próxima apunhalada que, eu sei, vai acontecer. E penso que outros, muitos outros, com certeza desistiram antes de mim por muito menos. Histórias como a minha conheço diversas só no meu departamento.

É triste, mas a verdade é que nossas Universidades são pacotes de traumas sortidos. Nós, alunos, somos reféns de administradores completamente despreparados e, muito pior, completamente despreocupados. Ninguém ganha nada com o nosso sucesso.