BBB 10, Coloridos e Marcelo Dourado

Dourado é favorito ao prêmio do BBB sem dúvida por representar a posição política da sociedade brasileira: machista, homofóbica e violenta. É difícil encarar esse quadro na forma tão óbvia e escancarada em que se apresenta no reality show, mas não há motivo para surpresa. A luta por um espaço ao sol não é uma missão terminada para a mulher brasileira: muitas ainda são desvalorizadas e se prestam à submissão. Geyse Arruda que não nos deixe esquecer. Pior ainda é a posição de nós, homossexuais, que ainda vivemos em um ambiente hostil. Alguns de nós contam com a dádiva de amigos compreensivos e talvez familiares. Mas ainda somos obrigados a esconder nossos sentimentos para preservar nosso futuro profissional e até nos resguardar de possíveis atos de violência urbana (como foi vítima, recentemente, uma drag queen, atacada por um grupo de marginais que gritou 'esquadrão Dourado' durante o assalto). Somado a isso, ainda temos as cifras gritantes de analfabetismo funcional: cerca de 68% da população brasileira. São cerca de 131 milhões de brasileiros que, apesar de reconhecerem as letras do alfabeto, não têm capacidade de interpretar textos ou realizar operações matemáticas básicas.

Mas não são apenas os muito ignorantes que simpatizam com Dourado. É toda uma classe social que se recusa a aceitar que, nós, gays existimos e somos 'normais'. E Dourado é dissimulado: ele usa o mesmo tipo de argumentação sinuosa que qualquer um pode usar para não enxergar a verdade diante do próprio nariz. Se faz de diplomata, de compreensivo. Tudo bem ele bater numa lésbica até que ela vá parar no hospital e tudo bem ele defender que apenas gays contraem HIV: depois vêm as palavras bonitinhas, e está tudo certo.

Mas não são apenas os muito ignorantes.

Evandro Santo, o “Christian Pior”, se recusa a se manifestar sobre o assunto. Assim como “Hugo Gloss” não quer se comprometer. Bruno Gagliasso faz torcida para Dourado. E por aí vai... Cadê os formadores de opinião em um momento como esse? Será que isso não diz respeito a eles, ou será que a eles não é permitido se manifestar?

Enquanto isso, Angélica é hostilizada no Twitter por ser “Bigoduda”. Pelo amor, não é mesmo? Quantas mulheres não fazem o buço? Isso é machismo e dos piores, porque argumentar contra essa violência verbal é um constrangimento tremendo. Esses torcedores do Dourado não têm é culhões.

Mas não acredito que tudo esteja perdido. Na verdade, achei sensacional o Dourado ter tido 38% dos votos para sair. Duvido que nós, gays esclarecidos e revoltos, sejamos 38% da audiência desse programa. Não existem muitos dados demográficos sobre homossexualidade, mas duvido mesmo que seja tudo isso. Significa que não estamos sozinhos, e realmente não estamos. Graças a Deus já existe uma parcela heterossexual esclarecida nesse país, capazes de repudiar esse Marcelo Dourado tanto quanto nós; seja pela homofobia, seja pelo machismo ou pela violência. Na década passada, dificilmente a disputa Dourado x Angélica chegaria a tanto. Não que eu esteja satisfeito: não estou e não devemos ficar! Mas daqui não é possível retornar. A luta por uma sociedade mais justa está de fato em curso, e cada um de nós tem o seu papel. Depende de nós fazer valer à pena.

E eu acredito nas pessoas. O futuro, tenho certeza, será muito mais colorido.