mto menos eu
“Mandamos a gravação”.
“Para o email certo, dessa vez?”
“Como assim, para o email certo, dessa vez?, a gente tinha mandado antes?”
“Eu pedi para um de vocês mandar para o email da agência”.
“Lou não me disse nada, além disso: mandamos a gravação, avise o cara”.

Cliquei duas vezes no ícone do Netscape, um navegador alternativo ao Internet Explorer, mas o mouse deve ter clicado sem querer e abriu uma janela do Msn. Era uma conversa que terminava com mto menos eu Última mensagem recebida em (...). Muito menos eu, tipo assim: o problema não é seu se os caras não são capazes sequer de mandar a gravação para o email certo? Muito menos meu! Se vira, estagiário desgraçado comedor de lixo. É, foi mais ou menos assim que eu me senti.
E de repente eu estava imaginando como será que deve ser a vida de uma vocalista. Ela fica lá, cantando e cantando e cantando, ou então ela não faz porra nenhuma além de beber, fumar e ameaçar caras mais importantes do que ela, aí ela seria mais celebridade do que vocalista; mas a parte importante é só o sexo mesmo, então, indiferente. Tem 53 horas de músicas ininterruptas no playlist do meu Winamp e eu nunca ofereci nenhuma música para o mundo. Isso é quase tão pesado para minha consciência quanto não ter plantado uma árvore e imprimir duas resmas de papel por dia. Isso é quase tão triste quanto ser estagiário em uma empresa f.d.p. que não respeita nem mesmo seus clientes, quanto mais seus empregados.
Mas a conversa não era sobre isso. Era sobre política. Eu disse que não acreditava numa só palavra que um deputado dissesse na tevê, e aí esse meu amigo respondeu mto menos eu Última mensagem recebida em (...). Ele concordava comigo, percebe? Não era ele mandando eu me ferrar. Ele concordava comigo.
